Sincretismo
religioso marca as comemorações do sebastianismo em Pirabas.
“Canta e encanta o rei Sabá, tua magia faz o peixe
ficar, rei do mar, rei do mar...” a letra da música do grupo folclórico
Pirabolando retrata muito bem a devoção dos nativos pirabenses ao protetor da
ilha da fortaleza, lugar de beleza típica do litoral paraense, localizada no
município de São João de Pirabas, nordeste do estado.
Todos os anos a cidade recebe centenas de turistas
que se juntam aos moradores da bucólica Pirabas para visitar a pedra do rei
Sabá. Um lugar sagrado para católicos, umbandistas e adeptos das demais crenças
afroamazônidas, onde, em cima de um cemitério paleontológico, está uma pedra,
que a distância assemelha-se a um homem sentado como se estivesse meditando.
No imaginário popular e na crença de pais, mães e
filhos de santo; pajés e outros sacerdotes do mundo da encantaria, a pedra
natural representa a pessoa de Dom Sebastião rei de Portugal, que após a
derrota para os mouros no norte da África foge para as américas, onde
constituiria um reino e, em dado momento, regressaria para libertar seu povo do
domínio estrangeiro e restituir a glória perdida da nação lusitana.
História e mitos à parte sobre a lenda do ‘Rei
Sabá’, o município que tem sua principal fonte econômica na pesca, com forte
vocação para o turismo ecológico, abre o seu calendário cultural com uma das
mais importantes manifestações religiosas, sendo superado em público apenas
pelo Círio de Nazaré. A tradicional festividade tornou-se um ícone do
sincretismo religioso na região do salgado, tendo em vista que no mesmo dia
comemora-se duas personagens históricas, Dom Sebastião, que é cultuado como
divindade afroamazônida e São Sebastião, mártir católico. Apesar de várias
vilas e comunidades da zona rural festejar o santo católico, a principal
atração do dia 20 de janeiro acontece na ilha da Fortaleza.
Ao som dos atabaques, os cantos, rituais e oferendas
por algumas horas quebram o silêncio antes dominado pelos ventos, na
tradicional celebração aos seres encantados. Bebidas alcoólicas, bombons,
cigarros, frutas, peças de artesanato, velas além de outros objetos são
depositados por religiosos e promesseiros junto à pedra do ‘Rei Sabá’ e das
quatro estátuas que compõem o complexo místico da ilha da Fortaleza: Mariana e
Jarina representam a família de Turquia; Yemanjá a vertente afro; e Zé Raimundo,
as entidades espirituais da floresta; numa clara demonstração da fusão de
elementos das crenças dos povos que influenciaram na formação da sociedade
amazônida.
O que para uns é religiosidade ou momentos de
lazer, para outros, o sincretismo religioso observado no culto sebástico em São
João de Pirabas é motivo de pesquisa. É o caso dos estudantes Max Pinheiro
(mestrando), Laila Chaves, Eduarda Meireles, Adilene Pinheiro e Jordana da Veiga, do curso de licenciatura em letras da UFPA campus de Bragança, que ficaram
fascinados com a riqueza das narrativas. “Nosso trabalho tem como objetivo
registrar a memória da cultura local e contribuir com as pesquisas que estão
sendo feitas com relação ao sebastianismo em Pirabas”. disse Eduarda Meireles.
Ainda não se sabe há quanto tempo são realizadas
as celebrações na pedra do rei Sabá e aos demais entes da encantaria. “Por
isso, se faz necessária a participação de acadêmicos interessados em estudar a
temática”, revela Jessé Machado, secretário municipal de cultura, que entre as
ações de sua pasta, com apoio de entidades culturais do município pretende
retomar os seminários sobre sebastianismo como proposta de fomentar a produção
cultural e o turismo local.
Texto e Fotos: Paulinho Pinheiro/ascompirabas