As
celebrações ao Rei Sabá tiveram início ainda na tarde de domingo, no terreiro
da Sacerdotisa “mãe” Rita de Oxóssi, de onde uma passeata seguiu até a igreja
matriz para a realização da missa ecumênica celebrada pelo pároco local. A
missa antecede a data em que se comemora o dia nacional de combate à intolerância
religiosa (21), criado pela lei 11.635/2007. Após a missa, a comunidade
prestigiou a tradicional “roda de tambor” ritual que celebra a união das
entidades que formam a religiosidade da sociedade paraense, realizada no teatro
Maria Pajé, na orla da cidade.
Na
manhã de segunda-feira (20) danças folclóricas, músicas, rituais e oferendas
marcaram a tradicional festa ao Rei Sabá, na praia do Castelo, Ilha da Fortaleza,
ocorrida na manhã e tarde de segunda-feira (20).
Mesmo
com o tempo fechado, milhares de pessoas atravessaram as águas da foz dos rios
Pirabas e Axindeua e outras vindas de Salinas, pelo distrito de Cuiarana para
participarem da festa, que segundo estudiosos da religiosidade afro é
comemorada há 108 anos. Ao todo aproximadamente três mil pessoas prestigiaram
os sacerdotes das mais diferentes vertentes dos cultos afro-amozônidas
reverenciarem o monumento às entidades das encantarias que compõem o monumento
mítico ao Rei Sabá.
Sebastião, Sabá e Tião nas terras do Grão
Pará e Maranhão.
O
culto ao encantado Rei Sabá é celebrado no mesmo dia em que a comunidade católica
celebra São Sebastião e os umbandistas, Oxóssi. É justamente esse sincretismo
religioso que diferencia a manifestação em Pirabas das demais festividades que
ocorrem em Cachoeira do Arari, Igarapé-Açu, ilha de Maiandeua, Carutapera/MA e Lençóis
Maranhenses.
No
caso das duas primeiras cidades paraenses e da vizinha maranhense, fica
evidente a devoção a São Sebastião; enquanto que no litoral paraense de
Maiandeua, Pirabas e nos lençóis maranhenses faz-se referências ao encantado
Rei Sebastião. Porém, é na ilha da Fortaleza, no município de São João de
Pirabas, em cima de um platô de pedras cenozóicas que está assentada, em uma
base, a estátua natural do mítico Rei Sabá, local onde os elementos da religiosidade
europeia, indígena e africana se encontram.
As versões
Somado
às belezas naturais da ilha, são estes aspectos que atraem religiosos, acadêmicos,
jornalistas e comunidade em geral de todas as regiões do Brasil para conhecer
as narrativas fantásticas que giram em torno da figura do monarca português El
Dom Sebastião, que ao ser derrotado pelos Mouros desaparece misteriosamente do
deserto de Alcácer-Quibir (1578), norte da África, para ressurgir encantado nas
praias do litoral paraense, sendo a Fortaleza um desses lugares.
Mas
também há quem diga que a pedra representa uma divindade da Floresta. Adeptos
da pajelança cabocla reconhecem a escultura natural como sendo um cacique Tupinambá,
que ao retornar da guerra, encontra sua tribo dizimada por uma peste. Acometido
por uma grande tristeza, o guerreiro sentou-se de costa para o mar e pediu a
Tupã que o petrificasse.
Já
para algumas vertentes dos cultos de matriz africana, o Rei Sabá celebrado em
Pirabas trata-se de um príncipe negro capturado na costa da África e trazido
cativo para a província do Grão Pará e Maranhão. Na viagem o navio negreiro ao
chegar no litoral paraense naufraga, e o príncipe então nada até o continente passando
por um portal encantado, recebendo essa nova condição.
Vandalismo
No
entanto, nem tudo é festa e celebração. A intolerância religiosa e o descaso
com o patrimônio natural são identificados por quem visita a ilha. À exceção da
estátua de Yemanjá, as de Mariana, Jarina e Zé Raimundo sofrem com ação da
natureza e com o vandalismo.