quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

PRINCOMAR. Uma história pra não ser esquecida.

Condenada a desaparecer da paisagem urbana da cidade, os escombros do que ainda restam da Princomar escondem boa parte da recente história de São João de Pirabas.

Aos poucos, Princomar vai desaparecendo da paisagem urbana
Foto: Click Pirabas

Instalada no então distrito pertencente ao município de Primavera, no ano de 1986, a Primavera Indústria e Comércio Marítimo, capitaneada pelo empresário e político João Bosco Rufino Moysés (in memorian), representou uma era de ouro para os pirabenses, tanto na economia, com a geração de emprego e renda, quanto na vida política e administrativa do lugar. Tudo isso dentro de um contexto político-econômico de grandes investimentos na região subsidiados com recursos da SUDAM para o desenvolvimento da Amazônia.   

Economia

Na economia a empresa foi responsável por absorver grande parte da mão de obra empregada no município e oportunidade de trabalho para vários tipos de profissionais oriundos de cidades vizinhas e até de outros estados com tradição na pesca. Durante três décadas, a empresa não só gerou divisas para o erário público, bem como elevou o nome de São João de Pirabas para todos os cantos do Brasil, tornando o pequeno município do salgado paraense como um dos principais produtores de pescado no país. A marca foi sinônimo de qualidade no segmento do pescado que abasteceu centros como Fortaleza, Recife, Salvador e países como EUA, Porto Rico, Ásia entre outros.

Política

No campo político, teve uma participação decisiva no processo de emancipação do município. Pois, foi só com a instalação da empresa que o processo de emancipação ganhou viabilidade, cumprindo assim com o principal pré requisito que faltava para ser aprovado junto às comissões da ALEPA, o critério socioeconômico, o mesmo que Pirabas havia esbarrado nas duas primeiras tentativas.    

As lembranças

Por muitos anos, antes dos aparelhos celulares, internet e outras tecnologias e até mesmo dos orelhões da antiga Telepará, nos acostumamos a ver a hora certa com os toques agudos das sirenes que marcavam os horários de entrada e saída dos trabalhadores que andavam apressadamente pelas ruas com os seus macacões vermelhos, verdes, azuis e branco. Era comum também ouvirmos os sons das máquinas cortando madeiras para a confecção dos barcos ao mesmo tempo em que o toc-toc dos martelos e talhadeiras dos carpinteiros e calafates completavam a sinfonia no estaleiro. Os grandes caminhões contêineres que ficavam horas e horas sendo carregados com toneladas de caixas de peixe para depois seguirem suas jornadas pelas estradas Brasil a fora levando o nosso principal produto de exportação. Há muito já não se vê as grandes embarcações com os seus poderosos motores Culmins, Yanmars e Tobatas fazerem as suas incursões-testes como preparativo para as longas viagens ao norte; nem mais se vê

a algazarra dos trabalhadores empurrando seus carrinhos sobre a ponte levando o peixe das urnas dos barcos para o local de seleção das espécies; muito menos os mesmos carrinhos pelas ruas levando as redes para os barracões onde eram ‘remendadas’;

Cenas de um passado recente e como em todos os ciclos, chegamos ao fim dessa era de ouro. Muitos negócios fechados, onde famílias inteiras ganharam seu pão de cada dia; muitas amizades, histórias (algumas polêmicas como o fatídico caso do mexilhão) e causos vividos agora fazem parte da memória daqueles que estiveram no dia a dia da empresa que muito contribuiu para progresso de São João de Pirabas.

Representação do passado, presente e perspectiva de futuro em um só lugar

E assim nos despedimos dessa gigante, que agora nos devolve o olhar sobre o encontro dos rios que banham nossa cidade. Um lugar que já foi sagrado para os nossos antepassados; ocupado em nome do progresso e do desenvolvimento econômico da região; que agora sai de cena para dar lugar a outras demandas e interesses de um novo contexto social.