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Dona Onete em turnê internacional. Foto: Divulgação |
Desde quando voltei a atuar na imprensa radiofônica local,
sempre fiz questão de reservar um lugarzinho para a música paraense. Nos
noticiosos que apresentei, como o "Café com Notícias", "Redação
105" e o mais recente "Alo Comunidade", os dois últimos já na
Pirabas FM, o primeiro bloco musical era exclusivo deles - os artistas da nossa
terra.
Entre alguns nomes como o de
mestre Tomaz e os Canarinhos de Pirabas, Pirabolando, Arraial do Pavulagem, Paulo Uchôa, figurou
algumas vezes no playlist do programa as músicas de Dona Onete, gentilmente
cedidas pelo amigo Mauricio Nascimento nos volumes do Terruá Pará. Lembro-me
que os carimbós de pinduca, os retumbões e xotes do arraial ... nunca foram
'contestados' pela crítica dos queridos ouvintes, afinal de contas, já são
nomes consagrados na música popular paraense. Mas nos dias em que as músicas de
dona Onete foram selecionadas para o playlist e "rodadas" no
programa, a reação se deu em vários locais que frequento e de várias formas de
preconceito. Deu agora de tocar macumba foi? retrucou uma ouvinte; outro
ouvinte me disse: quando tocam as músicas 'lesas' troco pra outra emissora, só
ouço as notícias... Claro que agradeci pela preferencia parcial de sintonia...
nessa lista ainda tem o comentário de um velho confrade: essas músicas acabam
com a audiência...(risos).
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Programa Alô Comunidade, espaço literário e musical para
artistas regionais. Foto com escritor Esmerindo Tetel.
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Nessas
horas me solidarizo a todos os militantes que arduamente e insistentemente
promovem a legítima música paraense. Imagino o quanto é difícil trabalhar para
que a nossa cultura seja valorizada e reconhecida quando nem mesmo os nativos o
fazem. Música de índio? de negro? de cabôclo? Sim. Pois somos tudo isso. Mais
aí vai um recado para aqueles que sofrem da tal "inferioridade
cultural" quase ou totalmente negando sua identidade amazônida. Enquanto
você renega, tem muito gringo querendo saber o quê se produz por essas terras
de Verequete, Cupijó, Rui Barata entre outros.
E quando vi a reportagem no fantástico sobre o trabalho musical
de dona Onete, veio à tona o velho e bom orgulho de ser paraense, o orgulho de
ver pessoas simples como nós, cantar, interpretar, imortalizar através da
música as coisas simples do nosso dia-a-dia, a exemplo do Pitiú, que por coincidência,
vi aquela ouvinte cantando toda empolgada.
Mas foi preciso passar primeiro na Globo, pois como já dizia a
célebre frase do Mosaico de Ravena: o que é bom vem lá de fora". Então que
nossos artistas conquistem o mundo para serem reconhecidos pelo exigente gosto
musical parauara daqueles que ainda não entenderam que quando se quer ser
universal, temos que cantar a nossa aldeia.
Viva a Cultura Paraense, nem que seja meio do Pitiú.
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