Réveillon mistura tradições religiosas
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Tradicional queima de fogos na torre da RBA, em Belém. |
Da Europa
vieram as luzes e a ceia cristã, que foram se misturando ao branco da umbanda e
às defumações.
Pular sete
ondas no mar, tomar banho de cheiro para atrair boas vibrações, defumar as
casas, vestir-se de branco. Estes são alguns dos inúmeros hábitos que as pessoas costumam realizar para comemorar o
Réveillon. Tradições advindas da mistura de culturas e religiões no Brasil,
esses costumes povoam o imaginário da sociedade e fazem parte das comemorações
na virada do ano em todos os estados do país. Professores da Universidade
Federal do Pará (UFPA) explicam as origens e influências dessas manifestações.
Segundo a antropóloga Marilu Campelo, o termo Réveillon vem do francês
reveiller, e significa “uma refeição noturna”, adaptada às festas que já
ocorriam em meados de 1885. Trata-se de uma invenção europeia, trazida para as
demais sociedades e países ocidentais. “Entretanto, o hábito de comemorar a
passagem do ano é bem mais antigo e varia de povo para povo, pois cada grupo
tinha a sua contagem de tempo.” No Brasil é seguida a tradição católica
iniciada a partir de 1582, adotada do calendário gregoriano. Este calendário
foi inventado pelos romanos, os primeiros a fazer grande festa no fim de ano.
A
pesquisadora afirma que usar roupas brancas na virada do ano é uma tradição proveniente da prática umbandista e
teria iniciado com algumas pessoas que faziam oferendas nas praias cariocas e
santistas para Iemanjá, uma das principais entidades da umbanda. “Depois, a
mídia começou a reproduzir estas festas já inseridas em um gosto de classe,
relacionando isso a outros significados que diferiam do sentimento
afroreligioso. Acredito que a moda pegou a partir da popularização nas novelas
e programas de TV, nos anos 80 e 90, portanto este é um hábito recente no
país”, completa.
BOAS VIBRAÇÕES
Marilu
Campelo esclarece que as defumações têm uma origem muito antiga e estão
relacionadas à produção de alimentos, pois têm efeito bactericida, mas
seu uso não é restrito às religiões afro-brasileiras. Na antiguidade, por
exemplo, diversos povos utilizavam aromas e ervas para preparar as oferendas
aos deuses, mas não se sabe ao certo quando os povos começaram a usar as plantas
aromáticas. Para o antropólogo Romero Ximenes, defumar as casas no final do ano
é um rito de purificação e limpeza do ambiente, praticado pela religião
católica, pelo candomblé, pela umbanda e por outras manifestações religiosas,
inclusive fora dos cultos. Segundo ele, na Amazônia defuma-se na pajelança
indígena usando tabaco, breu-branco, priprioca, entre outras ervas. “No Pará é
comum o uso de banhos e defumações na passagem do ano usando produtos de cultos
afro. O breu-branco, especialmente perfumado e produtos de fumaça abundante é
um destaque regional”, afirma Romero.
O
pesquisador explica que os ritos e elementos simbólicos afro-brasileiros nem
sempre são diferentes do catolicismo. Segundo ele, os africanos que vieram para
o Brasil eram de várias etnias, línguas e culturas, algumas inclusive
islamizadas. “Podemos afirmar que celebrar a passagem do ano seria rememorar as
culturas de outros períodos. O mundo global é mestiçado ao extremo, o próprio
cristianismo é uma formação histórica judaico-gregoromana.”
Segundo
Marilu Campelo, o hábito de utilizar velas nas festas de dezembro é cristão e
veio para o Brasil com o catolicismo trazido pela colonização portuguesa. Ela
explica que nas regiões africanas onde existem cultos tradicionais mulçumanos
ou não cristãos, não se usam velas. “A origem do uso de velas no natal está
relacionada ao período entre os séculos XVI e XVIII. Nessa época as pessoas
tinham o hábito de decorar as árvores com velas, que representavam a luz de
Cristo; com estrelas, para simbolizar a estrela de Belém, que anunciou o
nascimento de Jesus; e com rosas, em homenagem à Virgem Maria”.
ASCOM UFPA
Foto: Daniel Costa/Diário do Pará
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