segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

CULTURA. Janeiro é o mês que Pirabas homenageia o mártir, o rei fidalgo e o orixá.


Fiéis que professam a fé católica, homenageiam São Sebastião, que na umbanda recebe o nome de Oxóssi; porém, em Pirabas a data é especialmente celebrada ao mítico Rei Sabá, o protetor dos encantados e guardião da praia do castelo, na ilha da Fortaleza.
Praia do Castelo, Ilha da Fortaleza, encantos e encantados.
Na encantaria os elementos da religiosidade de europeus, nativos e africanos encontram em terras pirabenses, a harmonia que não tiveram na temporalidade.
Separados por guerras e intolerâncias dos tempos medievais entre europeus cristãos e sarracenos pela conquista da terra santa; pelas arbitrariedades cometidas por colonizadores europeus contra negros cativos de mãe África e índios, é nas praias do Grão - Pará e Maranhão que a fé desses povos se encontram. Coube a ilha da Fortaleza, em São João de Pirabas unir todas as matizes em celebração a paz entre os povos.

O sagrado
Pedra do rei Sabá recebe orações e oferendas de afrorreligiosos
Às vésperas do dia em que se celebra o dia nacional de combate a intolerância religiosa, pelo terceiro ano consecutivo, a comunidade umbandista e simpatizantes das religiões afro amazônidas saíram em procissão pelas ruas da cidade, no final da tarde de sábado (19), levando num pequeno barco a imagem do santo mártir católico - São Sebastião, em direção a igreja Matriz, onde os religiosos participaram de uma missa ecumênica, celebrada pelo pároco local.
Assim que a missa foi encerrada, os afrorreligiosos participaram da tradicional “roda de tambores”, realizado no complexo cultural Maria Pajé, momento em que todos os terreiros que prestigiam a festa, vindo das cidades circunvizinhas e de outras regiões do país se confraternizam através dos cantos, danças e invocações aos seres encantados.
Na areia da praia reúnem-se diferentes grupos de vertente afro 
Na manhã de domingo (20), milhares de pessoas atravessaram o rio Pirabas em direção à praia do Castelo, na ilha da Fortaleza, onde está localizado o monumento místico ao Rei Sabá; uma pedra assentada em cima de uma plataforma de concreto, que por sua vez está situada em cima de um platô de pedras cenozóicas num sítio paleontológico, lugar de beleza exuberante onde acredita-se, tanto por partes dos religiosos, quanto por parte dos nativos de que a pedra ali esculpida pela natureza seja o “rei Sabá”, considerado o protetor dos encantados na mitologia amazônida. Mas, também há quem defenda a versão de que a pedra represente um rei africano, ou ainda, um guerreiro tupinambá.
Durante as celebrações, muitas pessoas visitam não só a pedra do rei Sabá, mas também prestam orações, danças e oferendas como frutas, peças de roupas, bombons, bebidas e fumo as demais entidades da encantaria – Mariana, Jarina, Yemanjá e Zé Raimundo; historicamente as duas primeiras representam a família de Turquia, mas, que na encantaria foram aceitas como filhas do rei Sebastião, segundo a tradição do tambor de mina, sendo essas duas entidades muito cultuadas pelos visitantes das cidades do nordeste paraense. Na sequência Yemanjá a vertente afro do candomblé yorubá e seu “zé” representando a encantaria cabocla. Entidades que estão representadas em estátuas que compõem o complexo místico ao rei Sabá.

O profano
Enquanto as celebrações aconteciam no complexo místico da pedra do rei Sabá, os visitantes também aproveitaram a opção do entretenimento com apresentações de grupos folclóricos de carimbó, música mecânica e competições esportivas como o futebol e a corrida de praia, além do banho de mar. 

Rei Sabá ou São Sebastião?
Em Pirabas a comunidade em geral na sua grande maioria não distingue as personagens. Para muitos, o rei e o santo são as mesmas pessoas. E tudo fica ainda mais confuso quando se fala que São Sabastião é Oxóssi na umbanda. Essa mesclagem de elementos simbólicos e ritualísticos das religiões dos povos que deram origem a sociedade amazônica, chamado de sincretismo religioso, acontece sem que os nativos percebam.    
Entre os estudiosos da encantaria, a antropóloga Anaíza Vergolino em sua tese de doutorado, afirma que no imaginário coletivo da população de Pirabas, encontrou elementos nas narrativas de pescadores que remetem a pedra à figura de um rei. Há narrativas extraordinárias de o um homem, vestido com armadura de guerreiro militar que galopa em seu cavalo pelas areias da praia, para em seguida desaparecer misteriosamente nas águas da baia, em frente à pedra mítica. Em outras narrativas, há quem descreva a presença de um cão que sempre o acompanha nas cavalgadas.
O curioso é que esses pescadores e pessoas mais antigas não tem o conhecimento do rei Sebastião histórico, o desejado herdeiro do trono português, pelo contrário, até o confundem com o santo católico. Mas, ao descreverem as aparições, logo se percebe que se trata da figura de um rei, do guerreiro militar e não de outros personagens como o africano cativo ou o santo católico. Sebastião, o monarca português, último da dinastia de Aviz, que morreu na batalha de Alcacer-Quibir em 1578 no Marrocos era um guerreiro da ordem dos Cavaleiros de Cristo, remanescente dos templários em Portugal.
Apesar das semelhanças nas descrições físicas e nas indumentárias usadas pelo personagem que acreditam ser o “rei Sabá” feitas pelos pescadores que frequentam a praia do Castelo, na Ilha da Fortaleza, Anaíza Vergolino, não encontrou no mesmo imaginário coletivo a fé de que esse rei regressará para salvar a sua nação, como em alguns lugares do mundo de influência lusitana e até mesmo no litoral do norte do Brasil, como acontece nas vizinhas praias de Maiandeua, Algodoal e nos lençóis maranhenses. Fato que não tira a certeza da pesquisadora de que a pedra existente na ilha da Fortaleza, o “rei Sabá” seja uma associação ao monarca português, El Dom Sebastião, pois na região, Sabá é um tipo de redução do nome próprio de Sebastião.
A confusão se dá não apenas pelos elementos sincréticos, como também pelo nome das personagens, que nasceram na mesma data. O nome do rei é uma homenagem ao santo, mas são personagens que viveram em tempos distintos. El Dom Sebastião (1578-1554) desapareceu no deserto dos Marrocos tentando reconquistar o território ocupado pelos mouros no norte da África, antes pertencente aos cristãos, no século XVI; enquanto que Sebastião (França, 256 d.C. – 286 d.C.), o mártir, fora um soldado romano convertido ao cristianismo condenado à morte pelo imperador Diocleciano no século III.  
Com a chegada dos negros escravos ao Grão Pará e Maranhão em 1755, impedidos de cultuarem suas divindades, as entidades africanas foram camufladas correspondendo a um santo católico. Oxóssi, então orixá de contemplação, amante das artes e das coisas belas, assumiu a identidade de São Sebastião no catolicismo romano.   
Origem
Segundo dirigentes da União Religiosa dos Cultos Afro Umbandistas do Brasil, no Pará – URCABE, as manifestações onde está localizada a pedra mítica ao “rei Sabá”, já acontecem há 107 anos. O historiador Gerson Santos, estudioso da temática, em sua pesquisa bibliográfica, encontrou documentos de navegantes que relataram em seus diários de bordo a existência de manifestações religiosas no mesmo local da praia do Castelo, ainda nos tempos do Brasil colônia. Porém, ainda segundo o historiador, não se sabe que divindade era cultuada, à época.

Mitos e lendas
A pedra está em cima de um sítio paleontológico
Entre as lendas contadas na cidade, está a de um pescador que pediu ao rei Sabá obter um produtiva pescaria, ofertando ao ser encantado o maior peixe capturado. No regresso, com a pequena embarcação lotada de peixe, o pescador não cumpriu com o prometido, sendo repreendido por um colega de pescaria que lhe contou o que aconteceria se ele tentasse enganar o rei Sabá. Com o coração cheio de avareza, o imprudente pescador não só negou oferecer o maior peixe como ainda zombou do encantado.
A viagem prosseguiu com a enchente da maré, quando repentinamente um forte vento fez com que a canoa alagasse, pondo a perder toda a pescaria.
No imaginário popular rei Sabá opera milagres como curas de enfermidades e também puni quem pratica atos de desobediência no seu território encantado. 
Geminiano Fonseca, pescador aposentado(à época com 104 anos) afirma que em certa ocasião, um grupo de pescadores do Inajá resolveu passar a noite em um rancho na praia do Castelo. Ao cair da noite, um pequeno esquilo começou a pular de um lado para o outro no interior da cabana. Um jovem pescador, incomodado com o animal, resolveu golpeá-lo mortalmente. Seu companheiro mais experiente o repreendeu avisando que todos os animais da ilha pertenciam ao rei Sabá, e que ele iria castiga-lo.
Geminiano Fonseca, que era um garoto à época, lembra que não demorou muito para o castigo vir. Assim que o pescador descartou o animal e deitou-se no assoalho do abrigo, o inajauara foi acometido repentinamente por uma forte dor, vindo horas depois a óbito, após ter sofrido com febre alta, dor de cabeça, vômito... "parecia castigo mesmo", resumiu o centenário em entrevista concedida ao blog no ano de 2011.

A relevância cultural e científica
Mitos e lendas a parte, o dia 20 de janeiro abre o calendário cultural do município de São João de Pirabas, tornando-se um centro de peregrinação para sacerdotes das religiões afro-brasileiras, pesquisadores e acadêmicos, jornalistas e simpatizantes.
A lenda do rei Sabá está presente na cultura local nas mais diversas expressões artísticas, seja na poesia, pintura, musica, dança etc... e vem cada vez mais chamando a atenção de pesquisadores de várias áreas do conhecimento, inclusive de estrangeiros, interessados em estudar as peculiaridades da manifestação sebástica em Pirabas.
Entretanto, toda essa repercussão ainda não despertou a atenção do poder público local para tratar esse potencial natural, turístico e religioso como política pública que gere trabalho e renda para a comunidade durante todo o ano, tendo a manifestação dos cultos ao “rei Sabá” e demais entidades da encantaria como vetor de desenvolvimento do turismo local. 

Fotos: Walace Lopes   

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

RELIGIOSIDADE.PIRABAS SE PREPARA PARA CELEBRAR "REI SABÁ


COMPLEXO MÍSTICO GANHA ESTÁTUAS NOVAS.

Imagens sendo transportada para a praia do Castelo
As vésperas da grande celebração ao mítico Rei Sabá, no próximo domingo (20), a movimentação em direção a praia do castelo, na ilha da Fortaleza, em São João de Pirabas, se intensifica a cada momento, isso mostra o grau de envolvimento da sociedade com a festividade que abre o calendário cultural do município.
Estátua de Toya Jarina
Na manhã de hoje (18) uma equipe da prefeitura, sobre o comando do artista plástico Luis Santeiro, substituíram as imagens antigas que estavam depredadas e corroídas pela ação do tempo por novas estátuas que simbolizam as entidades da umbanda e pajelança cabocla, que junto com a pedra do Rei Sabá, formam o complexo místico da praia do castelo, local de beleza exuberante de frente para o oceano atlântico.
As manifestações começam amanhã no final da tarde, com a procissão dos pais e filhos de santo, que levam num barquinho a imagem de São Sebastião, que na umbanda é Oxóssi, finalizando com a missa ecumênica na igreja matriz.
Após a missa, os adeptos e simpatizantes das religiões de matriz africana poderão prestigiar a roda de tambores, no complexo cultural Maria pajé, na orla da cidade.
A travessia para a ilha e o retorno a sede do município depende da tábua de maré.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Defeso do Caranguejo

Foto: Google

O ICMbio publicou o calendário para o período do defeso do caranguejo-Uçá neste ano, conhecido como andada ou soatá, que consiste na ação de proteger o caranguejo na fase de sua reprodução.
Durante a vigência do defeso no estado do Pará, fica proibida a captura, o transporte, o beneficiamento, a industrialização, o armazenamento e a comercialização do caranguejo ou de suas partes (patas, pinças e etc..)

Confira o período do defeso.

Janeiro/2019
Fevereiro/2019
Março/2019
06/01 a 11/01
22/01 a 27/01
05/02 a 10/02
20/02 a 25/02
07/03 a 12/03
21/03 a 26/03