Condenada a desaparecer da
paisagem urbana da cidade, os escombros do que ainda restam da Princomar
escondem boa parte da recente história de São João de Pirabas.
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Aos poucos, Princomar vai desaparecendo da paisagem urbana Foto: Click Pirabas |
Instalada no então distrito
pertencente ao município de Primavera, no ano de 1986, a Primavera Indústria e
Comércio Marítimo, capitaneada pelo empresário e político João Bosco Rufino
Moysés (in memorian), representou uma
era de ouro para os pirabenses, tanto na economia, com a geração de emprego e
renda, quanto na vida política e administrativa do lugar. Tudo isso dentro de
um contexto político-econômico de grandes investimentos na região subsidiados
com recursos da SUDAM para o desenvolvimento da Amazônia.
Economia
Na economia a empresa foi
responsável por absorver grande parte da mão de obra empregada no município e
oportunidade de trabalho para vários tipos de profissionais oriundos de cidades
vizinhas e até de outros estados com tradição na pesca. Durante três décadas, a
empresa não só gerou divisas para o erário público, bem como elevou o nome de
São João de Pirabas para todos os cantos do Brasil, tornando o pequeno
município do salgado paraense como um dos principais produtores de pescado no
país. A marca foi sinônimo de qualidade no segmento do pescado que abasteceu
centros como Fortaleza, Recife, Salvador e países como EUA, Porto Rico, Ásia
entre outros.
Política
No campo político, teve uma
participação decisiva no processo de emancipação do município. Pois, foi só com
a instalação da empresa que o processo de emancipação ganhou viabilidade,
cumprindo assim com o principal pré requisito que faltava para ser aprovado
junto às comissões da ALEPA, o critério socioeconômico, o mesmo que Pirabas
havia esbarrado nas duas primeiras tentativas.
As
lembranças
Por muitos anos, antes dos
aparelhos celulares, internet e outras tecnologias e até mesmo dos orelhões da
antiga Telepará, nos acostumamos a ver a hora certa com os toques agudos das
sirenes que marcavam os horários de entrada e saída dos trabalhadores que
andavam apressadamente pelas ruas com os seus macacões vermelhos, verdes, azuis
e branco. Era comum também ouvirmos os sons das máquinas cortando madeiras para
a confecção dos barcos ao mesmo tempo em que o toc-toc dos martelos e
talhadeiras dos carpinteiros e calafates completavam a sinfonia no estaleiro. Os
grandes caminhões contêineres que ficavam horas e horas sendo carregados com
toneladas de caixas de peixe para depois seguirem suas jornadas pelas estradas
Brasil a fora levando o nosso principal produto de exportação. Há muito já não
se vê as grandes embarcações com os seus poderosos motores Culmins, Yanmars e
Tobatas fazerem as suas incursões-testes como preparativo para as longas
viagens ao norte; nem mais se vê
a algazarra dos
trabalhadores empurrando seus carrinhos sobre a ponte levando o peixe das urnas
dos barcos para o local de seleção das espécies; muito menos os mesmos
carrinhos pelas ruas levando as redes para os barracões onde eram ‘remendadas’;
Cenas de um passado recente
e como em todos os ciclos, chegamos ao fim dessa era de ouro. Muitos negócios
fechados, onde famílias inteiras ganharam seu pão de cada dia; muitas amizades,
histórias (algumas polêmicas como o fatídico caso do mexilhão) e causos vividos
agora fazem parte da memória daqueles que estiveram no dia a dia da empresa que
muito contribuiu para progresso de São João de Pirabas.
Representação
do passado, presente e perspectiva de futuro em um só lugar
E assim nos despedimos
dessa gigante, que agora nos devolve o olhar sobre o encontro dos rios que
banham nossa cidade. Um lugar que já foi sagrado para os nossos antepassados; ocupado
em nome do progresso e do desenvolvimento econômico da região; que agora sai de
cena para dar lugar a outras demandas e interesses de um novo contexto social.