terça-feira, 21 de janeiro de 2020

As celebrações aos encantados na terra mística do Rei Sabá


As celebrações ao Rei Sabá tiveram início ainda na tarde de domingo, no terreiro da Sacerdotisa “mãe” Rita de Oxóssi, de onde uma passeata seguiu até a igreja matriz para a realização da missa ecumênica celebrada pelo pároco local. A missa antecede a data em que se comemora o dia nacional de combate à intolerância religiosa (21), criado pela lei 11.635/2007. Após a missa, a comunidade prestigiou a tradicional “roda de tambor” ritual que celebra a união das entidades que formam a religiosidade da sociedade paraense, realizada no teatro Maria Pajé, na orla da cidade.  
      
Na manhã de segunda-feira (20) danças folclóricas, músicas, rituais e oferendas marcaram a tradicional festa ao Rei Sabá, na praia do Castelo, Ilha da Fortaleza, ocorrida na manhã e tarde de segunda-feira (20).


Mesmo com o tempo fechado, milhares de pessoas atravessaram as águas da foz dos rios Pirabas e Axindeua e outras vindas de Salinas, pelo distrito de Cuiarana para participarem da festa, que segundo estudiosos da religiosidade afro é comemorada há 108 anos. Ao todo aproximadamente três mil pessoas prestigiaram os sacerdotes das mais diferentes vertentes dos cultos afro-amozônidas reverenciarem o monumento às entidades das encantarias que compõem o monumento mítico ao Rei Sabá.

Sebastião, Sabá e Tião nas terras do Grão Pará e Maranhão.

O culto ao encantado Rei Sabá é celebrado no mesmo dia em que a comunidade católica celebra São Sebastião e os umbandistas, Oxóssi. É justamente esse sincretismo religioso que diferencia a manifestação em Pirabas das demais festividades que ocorrem em Cachoeira do Arari, Igarapé-Açu, ilha de Maiandeua, Carutapera/MA e Lençóis Maranhenses.

No caso das duas primeiras cidades paraenses e da vizinha maranhense, fica evidente a devoção a São Sebastião; enquanto que no litoral paraense de Maiandeua, Pirabas e nos lençóis maranhenses faz-se referências ao encantado Rei Sebastião. Porém, é na ilha da Fortaleza, no município de São João de Pirabas, em cima de um platô de pedras cenozóicas que está assentada, em uma base, a estátua natural do mítico Rei Sabá, local onde os elementos da religiosidade europeia, indígena e africana se encontram.

As versões

Somado às belezas naturais da ilha, são estes aspectos que atraem religiosos, acadêmicos, jornalistas e comunidade em geral de todas as regiões do Brasil para conhecer as narrativas fantásticas que giram em torno da figura do monarca português El Dom Sebastião, que ao ser derrotado pelos Mouros desaparece misteriosamente do deserto de Alcácer-Quibir (1578), norte da África, para ressurgir encantado nas praias do litoral paraense, sendo a Fortaleza um desses lugares.

Mas também há quem diga que a pedra representa uma divindade da Floresta. Adeptos da pajelança cabocla reconhecem a escultura natural como sendo um cacique Tupinambá, que ao retornar da guerra, encontra sua tribo dizimada por uma peste. Acometido por uma grande tristeza, o guerreiro sentou-se de costa para o mar e pediu a Tupã que o petrificasse.

Já para algumas vertentes dos cultos de matriz africana, o Rei Sabá celebrado em Pirabas trata-se de um príncipe negro capturado na costa da África e trazido cativo para a província do Grão Pará e Maranhão. Na viagem o navio negreiro ao chegar no litoral paraense naufraga, e o príncipe então nada até o continente passando por um portal encantado, recebendo essa nova condição.

Vandalismo
          
No entanto, nem tudo é festa e celebração. A intolerância religiosa e o descaso com o patrimônio natural são identificados por quem visita a ilha. À exceção da estátua de Yemanjá, as de Mariana, Jarina e Zé Raimundo sofrem com ação da natureza e com o vandalismo.

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