domingo, 4 de junho de 2017

Cultura. Como são as coisas e o nosso complexo de "inferioridade cultural"

Dona Onete em turnê internacional. Foto: Divulgação
Desde quando voltei a atuar na imprensa radiofônica local, sempre fiz questão de reservar um lugarzinho para a música paraense. Nos noticiosos que apresentei, como o "Café com Notícias", "Redação 105" e o mais recente "Alo Comunidade", os dois últimos já na Pirabas FM, o primeiro bloco musical era exclusivo deles - os artistas da nossa terra.
Entre alguns nomes como o de mestre Tomaz e os Canarinhos de Pirabas, Pirabolando, Arraial do Pavulagem, Paulo Uchôa, figurou algumas vezes no playlist do programa as músicas de Dona Onete, gentilmente cedidas pelo amigo Mauricio Nascimento nos volumes do Terruá Pará. Lembro-me que os carimbós de pinduca, os retumbões e xotes do arraial ... nunca foram 'contestados' pela crítica dos queridos ouvintes, afinal de contas, já são nomes consagrados na música popular paraense. Mas nos dias em que as músicas de dona Onete foram selecionadas para o playlist e "rodadas" no programa, a reação se deu em vários locais que frequento e de várias formas de preconceito. Deu agora de tocar macumba foi? retrucou uma ouvinte; outro ouvinte me disse: quando tocam as músicas 'lesas' troco pra outra emissora, só ouço as notícias... Claro que agradeci pela preferencia parcial de sintonia... nessa lista ainda tem o comentário de um velho confrade: essas músicas acabam com a audiência...(risos).
Programa Alô Comunidade, espaço literário e musical para 
artistas regionais. Foto com escritor Esmerindo Tetel.
Nessas horas me solidarizo a todos os militantes que arduamente e insistentemente promovem a legítima música paraense. Imagino o quanto é difícil trabalhar para que a nossa cultura seja valorizada e reconhecida quando nem mesmo os nativos o fazem. Música de índio? de negro? de cabôclo? Sim. Pois somos tudo isso. Mais aí vai um recado para aqueles que sofrem da tal "inferioridade cultural" quase ou totalmente negando sua identidade amazônida. Enquanto você renega, tem muito gringo querendo saber o quê se produz por essas terras de Verequete, Cupijó, Rui Barata entre outros.
E quando vi a reportagem no fantástico sobre o trabalho musical de dona Onete, veio à tona o velho e bom orgulho de ser paraense, o orgulho de ver pessoas simples como nós, cantar, interpretar, imortalizar através da música as coisas simples do nosso dia-a-dia, a exemplo do Pitiú, que por coincidência, vi aquela ouvinte cantando toda empolgada.
Mas foi preciso passar primeiro na Globo, pois como já dizia a célebre frase do Mosaico de Ravena: o que é bom vem lá de fora". Então que nossos artistas conquistem o mundo para serem reconhecidos pelo exigente gosto musical parauara daqueles que ainda não entenderam que quando se quer ser universal, temos que cantar a nossa aldeia.

Viva a Cultura Paraense, nem que seja meio do Pitiú.

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