sábado, 4 de janeiro de 2014

Viva Quintino! O mártir dos colonos da Cidapar.




4 de Janeiro de 1985. Há 29 anos a polícia militar do estado do Pará assassinava Quintino da Silva Lira.
 
Quintino, um pacato agricultor do interior da região do Guamá, que após ter sua pequena propriedade invadida por um fazendeiro, sem que ao menos fosse indenizado pelas benfeitorias na terra, viu-se obrigado a fazer justiça com as próprias mãos e juntar-se a centenas de colonos, que de forma semelhante foram expulsos de suas áreas por grandes latifundiários e empresas que se instalaram na região.

Decepcionado com a justiça e revoltado com a situação de extremo abandono das famílias camponesas por parte do estado diante da forma violenta com que essas famílias eram expulsas da terra, que até então eram os únicos donos, o conhecido amansador de burros aceitou liderar um braço armado na tentativa de resistir as desocupações impostas por um conglomerado de empresas que formavam a CIDAPAR.  Conflito este, as margens da rodovia Pará-Maranhão (BR 316), que ficou conhecido como o “conflito da CIDAPAR”, protagonizado por pistoleiros, milícias e polícia em favor das grandes empresas contra humildes camponeses, que num ato de desespero recorreram às armas a fim de garantir a posse de seu único bem – a terra; e o direito de plantar e colher para sobreviver com suas famílias.

Como todo o movimento que estremece as estruturas sociais favoráveis à elite conservadora, o bando liderado por Quintino, o “gatilheiro”,como auto se denominou, sofreu grande perseguição pelas matas da região do Guamá. Um verdadeiro aparato de guerra foi montado pelo governo do estado para capturar o “Robin Hood da Amazônia” que por pouco mais de dois anos no recente início da década de 80 do século passado, tornara-se o homem mais odiado, e paradoxalmente o mais amado por uma legião de seres humanos relegados à sua própria sorte nos rincões do nordeste paraense.

A exemplo de tantos outros heróis que se levantaram contra o sistema opressor da classe dominante, Quintino foi assassinado covardemente quando visitava a residência de um casal de amigos, numa vila às proximidades da sede do atual município de Nova Esperança do Piriá, quando foi fuzilado por tropas da polícia militar sem ter tido se quer a chance de se render, estando o gatilheiro desarmado naquela ocasião. 

Quintino por muito pouco não tornou-se um mito, aos moldes do sebastianismo, não fosse o interesse de seus familiares e amigos de luta em esclarecer os casos omissos de sua morte. Exumado o cadáver do herói dos colonos da cidapar, num sepultamento às pressas no cemitério municipal de Capanema, o corpo de Quintino foi posto em uma nova urna para ser trasladado em cortejo até as comunidades onde atuou, para que aquela gente humilde que tanto defendeu, pudesse se despedir do seu comandante militar. 

A morte de Quintino foi mais um episódio cruel e nefasto do atual modelo econômico tutelado pelo estado. Mesmo com a grande repercussão, pouca coisa mudou, a não ser a desistência da Cidapar pela área; mas a luta pela reforma agrária, ainda nos dias de hoje, continua a fazer suas vítimas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.