sábado, 17 de janeiro de 2015

RELIGIOSIDADE. “Rei Sabá” o monarca português encantado nas praias de Pirabas.


Mito abre calendário cultural do município
Pedra do Rei Sabá, onde acredita-se que o rei esteve encantado

Ele é o protetor da ilha, o provedor de pescarias abundantes, mas também é conhecido pelos castigos que impõe aqueles que ousam desrespeitar as leis da encantaria e a natureza exuberante que cerca sua morada.

Narrativas extraordinárias sobre esse ser encantado que povoa o imaginário dos hospitaleiros pirabenses, mostram o quanto a presença mítica do “Rei Sabá” influencia a cultura do município de São João de Pirabas. Pois na cidade não há quem nunca tenha ouvido um “causo” de benevolência ou de castigo atribuído ao monarca, que no dia 20 de janeiro recebe oferendas de pais, mães e filhos de santo de diferentes ramificações do candomblé, da umbanda e da pajelança, vindos de várias partes do país para conhecer a ilha de Fortaleza, o reino encantado de “El Dom Sebastião”. 

Gravura de D.Sebastião, o desejado de Portugal
Essa relação com o monarca português, o último da dinastia de Aviz, morto na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 1558 por conta de um confronto com os Mouros, é percebida por vários estudiosos das religiões afro amazônidas, entre eles os antropólogos Anaiza Vergulino e Heraldo Maués, que por meio de pesquisas orais confirmaram a associação do “Rei Sabá” ao desejado herdeiro do trono lusitano. É importante abrir esse parêntese porque na mesma data também é comemorado São Sebastião, o mártir católico. 

Nas celebrações que acontecem em cima de um platô de pedras cenozoicas, no final da extensa faixa de areia, na ilha da Fortaleza, conhecida como praia do Castelo, milhares de pessoas se juntam aos religiosos para agradecer pelas graças alcançadas ou em busca de algo ainda não realizado. Em meio aos rituais onde os sacerdotes invocam e recebem suas entidades, nativos e turistas também aproveitam para buscar aconselhamentos, meditar e depositar suas oferendas. Bebidas alcóolicas, velas, bombons, flores, cestas com frutas entre outros objetos são os mais comuns.

Festividade do Rei Sabá, em São João de Pirabas PA
Estátua do caboclo Zé Raimundo também recebe oferendas
Nesse local de beleza típica do litoral paraense, ao pé de uma pequena montanha, além da pedra do “Rei Sabá”, também foram erguidas mais quatro estátuas. Duas delas representam a casa dos turcos encantados, Jarina e Mariana; Yemanjá e caboclo Zé Raimundo completam o cenário místico, considerado um local sagrado para as religiões afro amazônidas.  

O monumento ao Rei Sabá é uma pedra natural esculpida sobre um grande platô de rochas, que também abriga um sítio paleontológico, local de onde foi retirado o fóssil de um caramujo gigante, em 2009, descoberto por pesquisadores da Universidade Federal do Pará. Até o final da década de noventa do século passado, a pedra tinha a semelhança de um homem de costa para o mar, em posição de meditação, antes de sofrer depredação ou a ação da própria natureza, o que ocasionou rachaduras na pedra que precisou ser afixada em uma estrutura de concreto. 

A morada encantada do Rei Sabá
Praia do Castelo, bens imateriais culturais e paleontológico
Segundo o historiador Gerson Santos, o culto às entidades da encantaria no local onde está a pedra do “Rei Sabá” acontece desde o período do Brasil colonial. “Sempre houve cultos na pedra. Há registro de João Francisco Lisboa, no período colonial, de celebrações onde possivelmente seria a Pedra do rei Sabá”. Lisboa é como se diz na literatura historiográfica, era um viajante. “Na verdade muitos historiadores usam essa literatura como documento histórico, o que o torna mais uma fonte histórica do que um historiador” – explicou o pesquisador que é natural do município.

As celebrações ao Rei Sabá acontecem na ilha da Fortaleza durante o dia de acordo com o fluxo das marés. A saída das embarcações se dá na vazante, por volta das 8h, enquanto que o retorno da ilha está previsto para as 16h.

Aviso aos visitantes:

A travessia é feita em grande parte em barcos de pesca, que saem principalmente do trapiche do mercado municipal e da rampa da princomar, na orla do beiradão. O percurso dura em média 40 minutos. Por ser um local rústico, o visitante deve se precaver com alimentação e água.

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